Compositor: Mario Panciera
Oyez! Oyez!
Esta é uma noite de gala!
Anjos velados lotam o teatro
Para ver um roteiro de esperanças e medos
Mímicos disfarçados se espalham sobre a cena
Suspensos por fios, afundando nas profundezas
No palco em um canto escondido atrás de mim mesmo
Prendo a respiração: No ar abafado
Fragmentos de arco-íris esmagados
Preenchem meu limbo, colocado em algum lugar
Entre o mundo e os brinquedos
Você quer tocar comigo?
Na trilha sonora da minha sobrevivência
Os martelos furiosos
Completamente desenraizados de seu esqueleto em forma de chaves
Cruelmente exploram cada caminho cranial
Sempre mais perto, sempre mais doloroso!
As barbatanas dos tubarões apontam diretamente para mim
Criaturas ou espíritos
Eu os imploro!
Talvez seja o delírio da minha razão mórbida
Ou aquela voz que jaz no fundo do meu eu íntimo
Para permitir que isso nade pelas linfas das vítimas
Enquanto a escuridão reina sobre os filhos da putrefação!
Crucifique!
Pai de filhos todos deformados
Isso como um fluxo medonho
Surge através dos portões enferrujados do tempo
Uma multidão surda, muda e sem olhos
Rindo para sempre, mas não sorrindo mais
O Deus ausente ou ainda
Ouça o chamado: Vida eterna!
Como o xamã que se insinua
Com a divindade do animal que caça
Procurando possessão com o espírito da besta
Então os inocentes, impregnados pelo
Espírito do grande predador
Príncipe desse mundo
Embora queimado em nossas piras irá transcender o tempo
Subindo sobre a extinção física
Mamãe, estou com frio
Mamãe, deixe-me entrar deixe-me entrar
Senhor, eu te invoco
Mostre-me que és o único justo
Por causa desse espetáculo
Morrerei atônito
Ao menos um morre!
Mãos enganchadas esticadas acima
No esforço final para agarrar um átomo
Que não afunda
No dia da ira as marionetes famintas
Acordam - ganham vida
Enquanto os pássaros da alma inauguram
Os raios do caos
Infecção fatal para todos!
Epidemia! Epidemia!
Dia da ira!
Alimentando-se de fragmentos de gangrena
Os dentes caem, dedos dos pés se desfazem
Rastejamos feito minhocas
As quais ratos e pássaros disputam
Pontuados pelo silêncio, os espíritos rastejam
Fora dos recantos secretos
Espalhados pelas ruas
Cada um escolhendo sua amada presa
Entre as árvores, segurando em minhas mãos
Que tal uma caminhada?
Eu evito as lascas afiadas de seu
Doce olhar quebrado
Passo a passo, nos labirintos da dúvida
Cada abrigo, uma armadilha
Enquanto aflito eu testemunho o crepúsculo de meu coração
Você espalha ao redor pontos de luz
Inconsciente do farfalhar das sílabas invisíveis
Você não vai sair da paz eterna!
E a lâmina virgem beija, libertando
Sua garganta branca
Sem dor
Tenho certeza
Ela não sente dor!
A voz ainda pulsa
Cada homem mata aquilo que ama!
Era uma vez uma linda mosca
Ele tinha uma linda esposa, essa linda mosca
Mas uma noite ela voou para longe
Voou para longe
Ele tinha dois lindos filhos
Mas uma noite essas duas lindas crianças
Voaram para longe
Voaram para longe
Para o céu
Para o
Túmulo!
Acorde-me!
Eu sei, vai começar
A dança da morte
As crianças estão vendo! As crianças estão vendo!
Carnaval acabou, não há mais carrosséis
E então se for a vontade do meu inquisidor
O privilégio de morrer!
Crucifique!
Cada homem mata aquilo que ama
Cada homem mata aquilo que ama
E finalmente desespero!
Alguém pode me ouvir?
Alguém pode me ouvir?
Quem é você?
Eu sou a batida do seu coração
O passo de um assassino
Destino!
Nos flashes roxos do sangue ardente
Lentamente, desaparecemos dentro e ao redor de nós mesmos
Células do espírito se dissolvem pouco a pouco
Você não vai sair da paz eterna!
Você não vai sair da paz eterna!
De repente, o vazio preenche sua vibração primogênita
Apenas o esplendor imóvel de suas alas geladas perdura
Eu te vejo através das minhas lágrimas
Lágrimas que ninguém jamais enxugará
Você não vai sair da paz eterna!
Você não vai sair da paz
Matar, paz, sono, assassinato
Morte, matar, paz, assassinato
Sono, respiração, matar, paz, assassinato
Sono, respiração, matar, morte
A última palavra do meu roteiro está agora declamada
O tempo acabou e não há roteiro sussurrante
Para aliviar minha solidão cênica
A forma rastejante se intromete e
Enquanto eu abro meus braços
Ele me agarra em suas mandíbulas!
Isto é o meu corpo dado em favor de vocês
Apagadas, apagadas estão as luzes todas
E a cada tremor e agitação
A cortina vem abaixo
Como uma mortalha funerária
Com a violenta tempestade
Enquanto anjos, pálidos e em silêncio
Elevam-se e revelam
Afirmam que testemunhamos
A tragédia humana
E seu herói é
O verme vencedor
Contudo eu não perca o ardor, nem deseje menor tortura
Quanto mais a angústia atormenta, mais cedo abençoará
E vestido com o fogo do inferno, ou brilhante com luz celeste
Se ele é o arauto da morte, a visão é divina
O olhar imóvel encolhido na camisa de força esvaindo em lágrimas
Por trás de cada beijo: Um Judas em potencial
Deseja morder a mina vital da artéria
Ou dos primeiros insetos que passam com as pernas arrancadas
Minhas unhas, uma por uma
Pedaços de vidro nos olhos do gato
Sorriso ou simplesmente: Marfim
Boa noite plugue desconectado
Algumas flores no primeiro mês
Depois é só: Terra
Veja como o cabelo dela flutua sonhador e gentil como a grama do rio
E veja a boca fresca e nova, cortada tão bem sob o queixo sonhador